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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Capítulo 1~


Ele é um budista, ela é uma freira
Ele é sujo, ela é divertida
Ele reage muito lento
Ela se veste de preto da cabeça aos pés
~ Be my Friend (Olivia Lufkin)

 
ALLANA
A luz do luar invadia o quarto escuro. Uma silhueta estava dormindo, desengonçada na poltrona velha desse hospital. Talvez estivesse amaldiçoando-me mesmo em sonho, por ser obrigado a dormir dessa forma, ao invés de estar em sua cama quente e aconchegante. Ele me odeia. Sempre me odiou sem eu fazer-lhe nada.
Olho para ele, desejando que, pelo menos um dia de nossas vidas, tivéssemos sido como verdadeiros irmãos.
Levantei-me da cama, sentindo dor no corpo todo, principalmente no machucado da minha perna, que levara 12 pontos. Saí do quarto na ponta dos pés, subindo as escadas de emergência devagar, até o terraço. Preferi não usar o elevador, já que o mesmo fazia um barulhinho irritante, que com certeza acordaria meu irmão.
A chuva caía forte e assim que fui em direção à ponta do prédio, já estava encharcada e com frio. Claro, isso não importa mais.
Olhei para baixo e pensei no meu pai, fazendo as lágrimas se misturarem com a chuva gélida. Sabia que a culpa era minha. Eu pedi pra ele voltar para o parque, pois havia esquecido minha blusa de frio em algum lugar lá. Eu incitei para que o acidente acontecesse... O caminhão bateu no carro do meu pai e o matou na hora. Quase morri, se não fosse pela transfusão de sangue que o meu irmão fez.
Matei a única pessoa que se importava comigo, a única que me guardava de todos os males do mundo. Agora eu estou sozinha, sem ninguém para me salvar, me proteger.
Do terraço, olho para baixo. Sinto medo, mas não chega nem perto da dor da morte da pessoa que mais fora importante na minha vida.
A rua está tão vazia, triste.
- Papai, estou indo te ver! - Digo chorosa, fechando os olhos e subo na mureta de proteção. O que me fez ter essa atitude repentina eu não saberia dizer, mas estar sozinha nesse mundo com certeza não é o que eu queria.
Minha perna sente o puxão e vejo o sangue-carmim descendo até meus pés, misturando-se com a chuva. Nada disso importa mais.
Ainda de olhos fechados, me impulsiono para frente, com a pretensão de viajar dez andares até o chão.
Antes que eu consiga me jogar completamente, ouço alguém gritando meu nome e, um segundo depois, sendo pega pela cintura por duas mãos fortes, caindo direto em seu colo, antes de perder a consciência.





DANIEL
Acordei com um maldito trovão!
Dormindo desconfortavelmente (e morrendo de dor nas juntas) na poltrona do quarto de hospital, lembrei-me de tudo o que aconteceu no dia anterior.
Meu olhar parou de repente na cama vazia. Cadê ela? Mas que droga! Ela deveria ter me chamado se quisesse sair do quarto. Menina boba.
Saí do cômodo e corri pelo corredor extenso, procurando-a. Olho para todos os quartos (as portas possuem uma pequena janela de vidro), pra ver se uma menina de pijama de hospital se encontrava por ali. Aproveito então a madrugada (que não tem ninguém, a não ser aquela doida, andando por aí) para verificar se ela está no banheiro feminino.
- Allana? - Nenhuma alma no banheiro. Que estranho.
Na minha procura, quase desesperada, noto a porta corta-fogo da escada de emergência aberta. Essa porta não pode ficar escancarada!
Subo devagar, meio incrédulo que ela poderia ter subido isso aqui. Descer não poderia, já que estávamos no primeiro andar e muito menos sair pela rua, pois o hospital se encontrava completamente trancado, impedindo que qualquer louca (como ela) saísse por aí.
As portas corta-fogo dos andares de cima estavam todas fechadas e comecei a me preocupar. Por quê subira tanto? Quanto mais degraus subia, mais corria. Com a perna naquele estado não poderia ir muito longe...
Escutei o forte barulho da chuva cada vez mais próxima e a porta do terraço estava aberta. Não, ela não pode estar aqui!
Saio na chuva, me encharcando rapidamente. Juro que eu ia matá-la por ter-me feito correr que nem um idiota.
Ela estava lá, olhando para baixo sem notar minha presença.
- ... te ver!- Ela sussurra algo que não entendo muito bem e logo sobe na baixa mureta, entrando em um perigo inimaginável.
Ela ia pular! Eu não consigo acreditar nisso!
- Allana!! - Apesar da distância que estávamos um do outro, consegui (não sei como) chegar em um segundo para perto dela, agarrando fortemente sua cintura e a puxando para cima de mim, nos jogando no chão.
O baque foi muito forte e senti uma pontada horrível nas costas, pincipalmente por ter o peso dela sobre mim.
A segurei com firmeza.
- Allana? - Ela estava inconsciente. Notei imediatamente a corrente de sangue de sua perna até o chão. Parecia ter muito mais sangue, por ter se misturado com a chuva.
A peguei no colo e levei-a para dentro. Mesmo com dor, consegui força extra pra carregá-la até o andar de seu quarto.
Abri a porta, desajeitadamente e entrei, indo direto até a banheira. Liguei, deixando a temperatura bem morna. Teria que dar um banho nela.
Enquanto a água enchia e ela ficava desmaiada, de qualquer jeito na banheira, fui até a mochila que trouxe de casa com a roupa que voltaria para casa, nessa manhã. Peguei seu vestido rosa, leve e confortável e uma calcinha da mesma cor. Nunca vi uma garota que gosta tanto da cor rosa. Não vou nem dizer a cor da toalha.
Cheguei no banheiro e fiquei com uma certa vergonha. Na verdade, nunca a havia pego no colo, e logo no primeiro dia que faço isso, ainda tenho que vê-la pelada...
Lembrei-me do machucado da perna. Estava bem feio, mas os pontos ainda impediam que sangue jorrasse em demasia, mas talvez tenha sido esse o motivo que a fez desmaiar. Voltei pro quarto e peguei uma faixa de gaze que a enfermeira havia deixado em cima da escrivaninha, do lado da cama. Enrolei na perna molhada dela, pra evitar que eu fizesse algo que a machucasse mais.
Retirei a sua roupa completamente, deixando-a nua e evitei olhar para as partes que me são proibidas. Passei o sabonete com uma esponja de tomar banho em todo o seu corpo, principalmente na área da perna suja de sangue. A banheira estava com a água já vermelha.
- Ai que raiva! - Ralhei alto. Allana começou a ficar suja com a água do sangue, ai que inferno!! Retirei a proteção do ralo e a água foi sugada rapidamente, voltei a ligar a torneira com água morna, não sem antes colocar a proteção de volta.
O sangue não vazava e consegui deixá-la limpa, pelo menos o máximo que eu pude... Não quis admitir que estava corado enquanto lavava o corpo nu de minha irmã.
Esvaziei novamente a banheira e sequei-a um pouco pra levá-la para a cama. Enrolei-a na toalha e a deitei na cama. A sequei completamente e coloquei seu vestido, junto com a calcinha. Muito, muito corado. Por sorte, não havia enfermeiras de plantão nesse andar (não era um andar de emergências). Também cuidei de sua ferida, usando um novo e seco gaze.
Quando já estava limpa e vestida, a cobri com o lençol e voltei para a poltrona. Não para dormir, para pensar nela. Na menina pela qual eu nunca havia dado atenção. Até hoje.

Sinopse

Olá!

Aqui quem fala é a B.K

Sinopse:
"Noite sem Estrelas conta a história de Allana e Daniel, dois irmãos que sempre se trataram como estranhos, até a morte drástica do pai. À partir daí, ambos se aproximam, na esperança de superarem a dor juntos. Mas a aproximação se tornou perigosa quando ambos percebem que o amor que sentem um pelo outro não é fraternal.
Entre segredos de família e amores proibidos, Noite sem Estrelas irá mostrar que nem tudo é o que realmente parece."

Todas as músicas iniciais são da cantora japonesa Olívia Lufkin.


A Cadeia dos Antagônicos é uma história fictícia. Ao retirar qualquer texto deste blog, por favor, dar os devidos créditos.