“Estou embarcando em mim mesma
Eu tenho que ter cuidado com meus pensamentos
Antes que eles peguem vida
Antes que eles peguem vida
Eu tenho que tirar você da minha cabeça
Eu tenho que engolir minha língua
Eu tenho que descobrir onde fui parar” - Mint (Olívia Lufkin)
Eu tenho que ter cuidado com meus pensamentos
Antes que eles peguem vida
Antes que eles peguem vida
Eu tenho que tirar você da minha cabeça
Eu tenho que engolir minha língua
Eu tenho que descobrir onde fui parar” - Mint (Olívia Lufkin)
ALLANA
É
claro que eu jamais contaria meu sonho. Com certeza meu irmão me chamaria de
pervertida, pecadora assídua ou incestuosa. Ou as três coisas de uma vez.
De
qualquer forma, eu não mando nos meus sonhos. Então não posso ser culpada por
isso, mas o problema é que sou movida por eles. Parece ser meio idiota, mas sou
movida pelos meus sonhos bizarros. Eu penso neles e às vezes acho que são um
presságio. Isso só aconteceu uma vez, quando meu irmão se machucou com a
bicicleta. Lembro-me do sonho claramente: Ele me ensinava a andar e ficava se
mostrando com sua bicicleta maior e mais bonita que a minha. Então, ele não viu
uma lata enorme de lixo do nosso vizinho e foi de cara (e bicicleta) pra cima
do lixo, dando uma pirueta muito louca. Depois disso, não lembro de mais nada.
Mas,
a realidade foi muito pior: Ele não queria me ensinar a andar de bicicleta e
quando foi atravessar a rua para ir ao parque, não viu a motocicleta que se
aproximava em alta velocidade. Na verdade, com meu grito estridente, ele notou
no tempo suficiente para se jogar na calçada, direto de encontro ao lixo do
vizinho, dando aquela pirueta louca do meu sonho. Tudo bem, com o tempo fui
tentando me convencer que uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Mas juro,
a pirueta era igualzinha, e resultou em um braço quebrado e num rosto
machucado.
-
Está aqui sua água... Pode me dizer?
-
Não insiste, Dan.
-
Acho que me conhece um pouco pra saber que sou curioso.
-
Continue insistindo então, vai perder seu tempo.
Ele
coçou a cabeça, impaciente. Mas preferiu não continuar nesse assunto, para
minha sorte. Bebi metade do copo de água e coloquei os fones de ouvido pra
escutar a voz da Olívia, como sempre.
Ele
bebeu a outra metade da água me olhando com cara feia, depois disse algo que
não escutei, por causa dos fones. Eu não consigo fazer leitura labial, então
fui obrigada a pausar a música.
- O
que você disse?
- Eu
perguntei por que você não consegue beber um mísero copo de água?
-
Porque eu deixo pra você tomar o resto. - Sorri. - Ah Dan, eu estou entediada.
Não aguento mais ficar aqui! Não que seu quarto não seja legal, mas eu não
posso nem tocar no que observo nele!
-
Que bom né? As coisas na sua mão quebram-se em cinco segundos! - Olhei pra ele,
o olhar entediado - Que tal jogarmos alguma coisa?
-
Tipo o quê?
-
Gosta de jogos de cartas?
-
Não.
-
Banco imobiliário?
-
Não...
-
Hn... Jogo da memória?
-
Claro que não...
-
Jogo de videogame, de tiro ou aventura?
-
Ah, não...
-
Então não sei o que você quer!
-
Que tal um filme? Gosto de filmes de terror...
-
Jura? Então a gente vai assistir um filme que eu gosto bastante.
Ele
foi em direção à sua estante e pegou uma capa de DVD. Quando o filme começou
percebi ser o clássico "O Chamado".
-
Falam que esse filme é tão sem graça...
-
Ele é um clássico pra mim. De certa forma, é o menos pior que eu tenho. - Ele
riu. - Se eu te mostrasse outros dvds, você não dormiria por uma semana.
-
Está me chamando de medrosa, Dan?
-
Claro que não, sua boba.
Antes
que Dan apertasse o “Play”, mamãe aparece no quarto.
-
Crianças, estou indo no... - ela fez uma pequena pausa, talvez procurando uma
palavra menos ruim para velório - enterro. Não quero que vão, pois nossos
familiares podem deixar vocês piores do que estão.
- Eu
entendo mãe. Allana também não pode andar... De qualquer forma, assim que ela
melhorar iremos visitá-lo.
Ela
chegou perto da cama e beijou meu irmão na testa e veio até mim, fazendo o
mesmo.
-
Vamos superar isso, queridos. Vamos superar. - E saiu do quarto, com os olhos
marejados. Essa mulher tão linda, estava com olheiras tão grandes, como se
tivesse chorado a noite toda.
Como
se lesse meus pensamentos, Dan apenas disse no meu ouvido:
-
Vamos superar isso Allana, confie em mim.
Ele
apertou o “Play” e o filme começou, nos obrigando a esquecer um pouco os
problemas do lado de fora do quarto.
Ficamos
sentados na cama dele, com as costas na parede. Minha perna ficava na minha
cama, esticada. Ele passara seu braço por cima do meu ombro, para que eu o
usasse como travesseiro e para que quando surgisse alguma cena feia, fosse mais
fácil colocar a mão em meus olhos. Ah, irmãos...
Enquanto
a Samara me dava alguns sustos, meu irmão ria e escondia meu rosto com sua mão,
para que eu não visse algumas partes mais legais do filme. Além disso, ficava
toda hora jogando meu cabelo pra frente e me dizendo que vim do mesmo poço que
a personagem assustadora do filme.
-
Você não vai me deixar assistir?
-
Fazer brincadeiras com você é mais engraçado. - Ele ria, enquanto eu pegava meu
travesseiro e jogava nele.
- Pra
mim não tem graça!
-
Mas você dá risada! Aliás, como está sendo seu dia nesse quarto? Espero que não
esteja entediada.
-
Claro que não estou entediada, Dan!
-
Que bom, Allana. - Ele remexeu no meu cabelo, deixando-o mais bagunçado do que
já estava. E me encarou, quieto.
Ficamos
nos encarando por um bom tempo, até que ele levantou suas mãos em direção às
minhas bochechas.
-
Por que está corada?
Desviei
o olhar.
-
Hun... O almoço está pronto?
Como
se entendesse, levantou-se e ainda de costas disse:
-
Volto daqui a pouco.
DANIEL
"Não,
não. Isso tá errado!", pensei comigo mesmo.
Fui
até a cozinha, o cheiro estava maravilhoso.
Como
um instinto maternal, minha mãe deixou todo o almoço pronto. Peguei dois pratos
e subi novamente as escadas. Allana estava deitada de lado, olhando para a
porta.
-
Algum problema?
-
Nenhum. Fora o fato que você me deixou vendo um filme de terror sozinha aqui.
-
Você não disse que esse filme era sem graça?
-
Mas assusta.
Não
pude conter um riso, enquanto ela agia como uma criança. Isso a deixou ainda
mais brava.
-
Vai rir às minhas custas, Daniel?
-
Pequena criança... Agora tem um adulto do seu lado. E aqui não há nenhum poço
para que nenhuma monstrinha saia dele! - Coloquei os pratos na escrivaninha e deitei
do seu lado, a abraçando.
-
Mas você viu que ela saiu da televisão? Pois é, nessa casa existem quatro
televisões!
-
Allana! - Aninhei ela em meu peito. - Quanto exagero, nem parece que tem
dezenove anos!
-
Para de ser chato comigo.
-
Tudo bem, bebezão. - Baguncei seu cabelo - A comida já está ali. Vamos comer
agora.
-
Hey, olha a minha perna? Quero saber se estou me recuperando rápido...
Levantei-me
e fui tirar o gaze do seu machucado, que ela mesma havia colocado à noite para
que o remédio não saísse enquanto ela dormia. Realmente, acho que aquele pó
cicatrizante é um verdadeiro milagre, pois o machucado já está bem melhor de
ontem para hoje.
- Do
jeito que está indo, depois de amanhã a gente volta ao hospital para tirar os
pontos.
-
Jura? Mamãe disse que voltaríamos no sábado para fazer isso...
-
Mas o pó cicatrizante está melhorando muito seu machucado.
-
Isso é uma ótima notícia, Dan!
Acenei
concordando. Ela sorria radiante, porque amanhã estaria mancando, mas de pé.
-
Que tal um passeio pelo parque, amanhã?
-
Vai pegar o carro da mamãe?
-
Vou sim.
-
Quero muito ir!
Enquanto
eu pegava o seu almoço na escrivaninha e colocava em seu colo, minha irmã me
encarava, com aqueles olhos verdes penetrantes.
Perguntei-me
então, se ela estaria pensando nas mesmas loucuras que estou quando olho para
ela...
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