“Você reflete o meu eu forte,
Você traz à tona o melhor de mim” ~ Miss You (Olivia Lufkin)
Você traz à tona o melhor de mim” ~ Miss You (Olivia Lufkin)
ALLANA
Não
sei o que me irrita mais: Se é ficar deitada na cama o dia todo, ter fome toda
hora ou aguentar meu irmão. É, acho que a terceira opção é mais válida.
Enquanto
ele levava os pratos sujos na cozinha, eu evitava olhar a televisão. Não que eu
não fosse medrosa nem nada, mas a Samara me assusta. Só um pouquinho.
Principalmente quando ela decide sair da televisão ou do poço.
-
Ainda com medo, bebezão?
-
Não estou com medo! - Sorri e ele se sentou do meu lado novamente.
AAAAAAAAAAAAAH!
A mulher da televisão, que vai ser morta pela Samara deu um grito estridente.
-
AH! - Pulei da cama com o tremendo susto - Mas quem aumentou o volume dessa
porcaria?
-
Sua cara de susto foi impressionante. - Ele deu risada, como se eu fosse a
palhaça da vez.
Me
deitei, de frente para a parede, fingindo estar contrariada.
-
Quer ver outro filme, Allana? - Ele se aproximou de mim.
-
Enjoei de filmes, Dan. Agora estou entediada. - Me ajeitei na cama da parede e
me cobri por completo, minha perna machucada estava dormente de ter que ficar
parada.
-
Que tal se usássemos esse tempo pra conversar? - Ele se ajeitou do meu lado,
cobrindo-se também e desligando a TV.
- Se
for sobre a faculdade, eu passo.
-
Não é sobre... a faculdade. É sobre nós.
-
Defina "nós".
-
Noite chuvosa, escadas, terraço, uma quase morte...
Respirei
fundo. Que raios ele quer saber?
-
Mas se não quer contar, tudo bem, Allana. Vamos falar de nós, de outra maneira.
-
Que outra maneira, Dan? - Ele me olhou fixamente, sabendo que estava numa
batalha perdida.
-
Bem, você é minha irmã. E eu não sei tudo o que um irmão deveria saber sobre
uma irmã.
-
Meu nome é Allana, tenho dezenove anos, gosto de rosa...
-
Não! Não é isso. - Ele se achegou até mim, mantendo nossos rostos próximos. -
Seus sonhos, seus medos. Seus amores... Como gostaria que fosse seu futuro...
Essas coisas.
Nunca
havia parado para pensar profundamente em algumas coisas. Principalmente em
como gostaria que fosse meu futuro.
-
Meu sonho é ter um closet de roupas lindas e rosas e um gato cinza chamado Tom.
-
Não brinca Allana. - Ele tocou minhas bochechas com sua mão branca e fria. -
Seus sonhos. Aqueles profundos.
-
Meu sonho profundo? Ter a nossa família de volta, mas dessa vez, unida e feliz.
- Dan afagou meus cabelos.
-
Compartilhamos do mesmo sonho. Mas sabe, é impossível.
-
Então eu vou ter a minha própria família unida e feliz.
- E
como vai fazer isso? - Ele sorriu.
-
Vou encontrar um homem que me ame, que seja lindo e que queira uma família
tanto quanto eu. Vamos viver felizes passeando no parque, com nossos filhos e
nosso gato Tom... Nossa casa será grande e com móveis delicados, nossos filhos
estudarão numa boa escola e...
-
Está imaginando bem seu futuro.- Ele começou a dar risada.
Acompanhei
sua risada, comparando o futuro que acabei de imaginar com o meu sonho.
- E
como será o homem dos seus sonhos?
-
Quero que ele seja alto, que me entenda mesmo quando eu agir como uma criança e
que cuide de mim, em todos os momentos, da mesma forma como vou cuidar dele.
- E
fisicamente?
-
Não sei... Penso em um homem loiro e de olhos claros.
-
Então está me dizendo que eu poderia ser um candidato? - Corei.
-
Você é meu irmão!
- Eu
tô brincando, Allana... - Sorri, mas ele continuou sério. - Quero o mesmo que
você: Uma família unida e feliz. Uma mulher pra partilhar meus segredos e que
ela seja a moça mais doce que exista no mundo.
Dan
me abraçou, fazendo-me deitar em seu peito. Dormi, enquanto falava sobre a
garota doce e morena que ele gostaria de amar para sempre.
DANIEL
Passei
o resto do dia vendo televisão enquanto Allana dormia no meu peito. Essa menina
só pensa em dormir e comer. Ah, ela pensa também naquela cantora que é fã.
Ela pesava
em meu colo e os seus cabelos, mesmo que não fossem lavados hoje, ainda
mantinham o cheiro delicioso do seu creme. Acho que é de cereja, tão doce
quanto ela é.
Pra
mim, Allana é a garota mais doce do mundo. Eu não sei se vai existir outra como
ela, mas espero que não. Mesmo que isso esteja sendo perigoso para mim, tanto
quanto para ela (o "homem loiro de olhos claros", ainda martela na
minha cabeça), não quero me afastar.
Realmente,
não sei como isso aconteceu comigo. Houve tantas garotas com quem já fiquei ou
apenas gostei, mas Allana é diferente de qualquer uma delas. Não porque é minha
irmã, mas porque ela é doce e talvez nunca tenha beijado alguém antes.
Ela
remexeu em meu peito, me fazendo sentir mais seu perfume. Droga, por quê a
Allana? Não poderia ser outra? Eu não posso sentir isso, não com a minha
própria irmã.
-
Dan... - Ela sussurrou de repente.
- O
que foi? - Afastei os pensamentos para longe. Ela não respondeu nada. - O que
foi, Allana?
Sem
resposta.
Então
os pensamentos voltaram, mais carregados, mais doloridos do que já estavam. Ela
provavelmente estava sonhando comigo.
ALLANA
Acordei
bem cedo: 7:03 am.
Não
que eu gostasse disso, mas dormi bastante no dia anterior. Dan estava dormindo
profundamente, jogado de qualquer jeito na cama. Aquele samba-canção feio do
seu time preferido, Liverpool, estava à mostra. Como uma pessoa poderia dormir
com um shorts ridículo desses, ainda mais de um time como...
- O
que você tá olhando? - Ele olhou em direção aonde eu olhava e me encarou. - Estava
olhando meu samba-canção, Allana?
- É,
é sim. - Ele corou instantaneamente, por algum motivo que não faço ideia - Tô
pensando aqui o quanto essa roupa é horrível. Não sei como você pode dormir com
ela.
-
Ah, é isso... - Ele deu um riso e deitou de novo - Que horas são?
-
São sete e pouco da manhã.
-
Por quê me fez acordar tão cedo? - Ele sentou na cama, mostrando o peitoral.
Odiava dormir com camisa.
- Eu
não te acordei! Volte a dormir, eu vou ao banheiro.
- Eu
levo você!
-
Hoje é o dia em que posso me levantar!
- É
mesmo... Vá devagar! - Dan deitou-se novamente e eu segui com passos pequenos e
bem devagar até o banheiro.
Olhei
meu rosto e meu cabelo. Horríveis! Decidi então tomar um banho e já me
aprontar, pois às 9:00 am, iria até o hospital e depois ao parque com meu
irmão.
Peguei
a toalha e despi-me. Olhei para a minha perna machucada, notando que o mesmo
estava bem cicatrizado. De qualquer forma, eu teria que ter cuidado por mais
alguns dias.
A
água estava bem morna, me deu vontade de ficar ali por várias horas, pensando.
Tive
um sonho ontem, enquanto dormia aconchegada no meu irmão. Estávamos em uma
praça estranha, onde ficava um cemitério bem de frente. Meu pai estava em
frente ao cemitério e sorria para mim e para alguém que estava segurando minhas
mãos. Não conseguia enxergar a pessoa, apenas uma luz, na cor azul clara.
Então
essa luz veio em direção a mim e senti nossos lábios se tocarem. Fechei os
olhos instintivamente e quando os abri, percebi que era o Dan.
-
Allana? Tudo bem aí?
-
Sim Dan, estou tomando um banho.
-
Ok.
Saí
de toalha até o meu quarto, para me trocar. Entre tantas roupas, decidi
escolher um vestido branco com muitas flores pequenas na cor rosa e lilás.
Calcei uma rasteirinha rosa-bebê e arrumei meus cabelos, definindo os grandes
cachos nas pontas e pondo uma pequena presilha rosa em um dos lados. Por
último, uma maquiagem leve, um brilho nos lábios e um perfume de cereja.
Olhei
para o meu espelho de corpo inteiro, gostando do que estava vendo. Pela
primeira vez em semanas me sentia bonita e bem, em termos, novamente.
Fui
até uma parede do meu quarto, onde ficavam várias fotos de família que eu
coloquei há algum tempo. Lá, tinha uma foto linda do papai quando foi pescar.
Ele sorria grandemente com um enorme peixe nas mãos, era notável a felicidade
que exalava.
-
Sinto sua falta, papai. - As cenas do acidente ainda eram vivas em minha mente.
E doía demais, como no dia em que o vi morrer. Tento, sem sucesso, secar as
lágrimas que borravam minha maquiagem, quando alguém me abraça por trás.
Era
Dan, ainda vestido somente com aquele samba-canção grotesco.
- Eu
também sinto falta dele. - Ele dizia no meu ouvido, enquanto suas mãos estavam
em torno da minha cintura. - Mas ele estará sempre zelando e cuidando de nós.
- Eu
sei...
Ele
me fez ficar de frente para ele e limpou as lágrimas do meu rosto.
-
Você está linda! Deixe-me tomar um banho e me trocar, enquanto isso vá tomar o
café da manhã. Eu mesmo fiz o café.
- Já
vou, estou morrendo de fome!
Fui,
devagar, até a cozinha e mamãe estava lá, preparando seu suco matinal.
-
Como está sua perna? - Perguntou sem olhar para mim.
-
Melhor, consigo andar pelo menos.
-
Dan me disse que vocês vão ao hospital e depois ao parque. Vou dar o carro para
ele, pra que você não precise andar muito até lá.
-
Obrigada mamãe!
-
Ahan. - Continuou atenta ao seu suco.
-
Aliás, como foi lá? - A palavra “enterro” é como um karma, então decidi apenas
deixar a pergunta subentendida.
-
Retirando que o momento não era propício para ser uma coisa boa e ainda ter que
aguentar os familiares fingindo se importar conosco, foi como todos os...
enterros. Doloridos.
Acenei
com a cabeça, sem dizer nada.
Voltei
até a mesa e vi pães, doces e salgados sobre ela. Peguei o leite e o café,
preparando o pingado e um pão com requeijão. Assim que terminei de comer, Dan
descia as escadas com uma bela camisa polo da mesma cor azul de seus olhos e
uma calça jeans escura. Seu tênis social era um vinho bem escuro.
-
Pronta? - Chegou perto de mim, o suficiente para que eu sentisse seu perfume.
-
Não vai tomar café da manhã, Daniel? - Mamãe surgia da cozinha com seu copo de
suco.
- Não estou com fome agora. Provavelmente eu e
Allana vamos almoçar em um restaurante lá perto do parque.
Mamãe
tirou do bolso suas chaves e as entregou pro Dan.
-
Cuidado. Os dois. - Foi a última coisa que ela disse antes de voltar para a
cozinha.
Em pouco tempo estávamos no hospital. Assim que chegamos na recepção,
a enfermeira James estava lá. Ela me deu um enorme abraço.
- Como você está mocinha? - Ela se abaixou para olhar minha perna mais
de perto.
- Puxa, Daniel! Você cuidou muito bem da Allana! - Ela olhava admirada
para o machucado que há pouquíssimo tempo atrás, parecia um vulcão.
- Bem, isso é amor. - Dan riu, fazendo minha mãe ficar desconfortável.
A enfermeira James deu risada e concluiu:
- Eu era assim com meu irmão... Enfim, vamos até àquela sala - disse
apontando e indo em direção à primeira porta do corredor - para poder retirar
os pontos.
Foi desconfortável sentir aqueles fiozinhos saindo, mas a aparência
ficou um pouco melhor.
- Agora, essa pomada vai ser para não deixar muitas marcas. Mas deixo
claro, Allana, sua perna não vai ficar totalmente lisinha como antes.
- Eu entendo, enfermeira James.
- Me chame apenas de Hellen! - Ela sorriu e declarei isso como o
começo de uma grande amizade.
Só não sabia que seríamos tão parecidas como pensei.
DANIEL
-
Não íamos ao Parque Florestal? - Allana disse assim que passamos em frente ao parque
e não parei.
- Já
que estamos de carro, pensei em ir ao Parque Central. Ele é maior, mais bonito
e podemos aproveitar mais as sombras das árvores.
-
Parece interessante. - Allana sorriu e continuamos por mais vinte minutos de
carro, sem parar.
O
parque estava um pouco vazio, a não ser por algumas crianças que brincavam de
se esconder e outros casais sentados em bancos, embaixo de árvores.
Allana
sorria deslumbrada.
-
Você decide para onde vamos.
-
Vou andar bem devagar, então tenha paciência comigo.
- Se
você cansar, te levo no colo. - Sorri para ela, antes de pegar em seu braço e
entrelaçar com o meu.
Andamos
por meia hora, até finalmente pararmos em um banco, debaixo de uma enorme
árvore Sete Copas.
-
Puxa, que lugar maravilhoso.
- É
mesmo. Vim uma vez aqui, com o Charlie.
Ficamos
olhando a paisagem, o lago, as pessoas.
-
Daniel? - Essa voz. Essa maldita voz.
-
Cathy? - Disse rudemente, antes de me virar para ela.
-
Você está bem, meu amor? Sinto sua falta na faculdade. - Ela virou o pescoço
para olhar Allana, que fazia questão de ignorá-la. As duas nunca se suportaram.
- Bom dia, Allana querida! - A falsidade na sua voz era notavelmente
perceptível.
- E
aí? - Allana disse, antes de voltar a olhar a paisagem.
-
Então, - Cathy mudou de assunto, sem graça pela rejeição de Allana. - Meu
amor... Sinto muito pelo que aconteceu com o seu pai. Eu quero agora me
aproximar mais de você para que você não se sinta sozinho. Eu sinto saudades
suas e...
Enquanto
Cathy falava descontroladamente, senti Allana se mover desconfortável no banco.
Provavelmente, ela estava achando que eu ia cair de novo na lábia dessa garota
bela e perversa.
-
Olha Cathy, eu e Allana estamos em um passeio e não queremos ser incomodados.
Na verdade, não quero olhar pra essa sua cara pelos próximos cem anos.
-
Mas meu amor...
-
Cala a boca, vadia. Não quero suas condolências e muito menos sua presença.
Levantei-me,
segurando a mão de Allana e fomos até o outro lado do parque, deixando uma
Catherine chorando sozinha para trás.
ALLANA
-
Você sabe que não pode falar mal de uma pessoa usando esses nomes feios. Mesmo
sendo a Catherine. - Meu irmão olhava para o lago à nossa frente, enquanto eu
lhe dava sermão. - Dan, olha pra mim. Você a fez chorar.
-
Você não gosta dela Allana, por que se importa tanto agora?
-
Não é questão de me importar com ela. É que não quero que meu irmão seja o
vilão dessa história. - Ele continuou quieto - Você sente algo por ela?
Estávamos
de pé, embaixo de uma árvore. Dan estava nervoso por encontrar ela, e eu
tentava trazer ele de volta. Mesmo que meu coração estivesse doendo um pouco
pelo fato da Catherine mexer tanto com ele.
-
Sente?
-
Não, Allana. Não sinto mais nada por ela. - Um alívio estranho correu pelo meu
corpo. Não consegui conter meu sorriso.
-
Você se importa que eu goste dela ou não?
-
Não quero que você encontre uma pessoa que te faça sofrer. Quero que você seja
feliz, Dan.
Ele
se virou para mim, me olhando bem antes de se aproximar e segurar em minha
cintura.
-
Você me faria feliz?
Meu
coração acelerou.
-
Eu... eu... não sei... Eu... te faço feliz. Somos... irmãos... - Sua
proximidade me fez gaguejar. Seus olhos bem próximos aos meus.
-
Sim. Então me faça mais feliz do que eu já sou ao seu lado, Allana.
-
Eu... eu... - Não consegui encontrar mais palavras para dizer.
Mas
não precisei de palavras, pois Daniel selou nossos lábios com um beijo.
DANIEL
Um
único empurrão me levou até o tronco da árvore. Doeu pra caramba, mas não me
importei, pois já tinha um gosto bom na boca.
-
VOCÊ É LOUCO? DEMENTE? IDIOTA? RETARDADO? - Allana gritava furiosa. Tão furiosa
que tirou forças não sei de onde pra me empurrar para longe dela.
Ela
se virou, procurando o carro e decidiu correr. Essa menina não pensa nas
consequências.
Corri
até ela e a parei.
-
Sua perna, Allana. Eu sei que ficou brava, mas tome cuidado com sua perna!
- Me
solta Dan. - Desvencilhava seus braços dos meus, enquanto chorava.
-
Allana, pare. Por favor! - A segurei com força. - Por que está chorando? Me
desculpa, eu fui um otário. Eu não queria te fazer mal... Só que...
Ela
parou e olhou para mim, os olhos marejados. Isso me deixou com um tremendo
arrependimento. Provavelmente esperava que eu continuasse a dizer tudo o que
sentia.
-
Allana, você é diferente de qualquer garota que eu conheço. Você é doce, é...
-
Fala o porquê de ter feito isso. Não quero elogios.
Suspirei,
antes de começar.
- Eu
estou apaixonado por você.
Suspirei
novamente. Allana me encarava enquanto caiam lágrimas de seus olhos.
- Eu
entendo, olha... Vou suprimir esse sentimento, Allana. Eu não quero que você
chore mais, não quero te fazer mal. Vamos fingir que tudo isso foi...
- Eu
também estou apaixonada por você, Dan.
Ficamos parados, um
olhando para o outro. Sem saber o que dizer, sem saber o que fazer. Apenas
apreciando o sentimento proibido que crescia entre nós.
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